sábado, 31 de dezembro de 2011




Fonte: http://caixinhadelicada.blogspot.com/

QUE VENHA 2012!



“Quando janeiro vier, de tão azul, o céu parecerá pintado. E que seja doce!”




Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

ZERO GRAU DE LIBRA

"Sobre todos aqueles que continuam tentando,
Deus, derrama teu Sol
mais luminoso."
Caio Fernando Abreu

"O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente porque Deus, se é que existe, anda destraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé - e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.

Nesse zero grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos de Deus um olho bom sobre o planeta terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre aquele mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com fanta e guaraná pelos restaurantes, e mal se olham enquanto falam coisas como: “você acha que eu devia ter dado o telefone da Catarina à Eliete? – e outro grunhe em resposta.

Deus, põe teu olho amoroso sobre todos que já tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se verem – nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa.

Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, na noite, liga para o CVV. Olha bem o rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon Over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel dão duro como garçonetes pelos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de taxi que confessa não Ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto- olha por todos aqueles que queria ser outra coisa qualquer a que não a que são, e viver outra vida se não a que vivem.

Não esquece do rapaz viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na Capital, deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações da vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dado, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis da República do Líbano, sobre os porteiros de prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma – sobre esse que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões.

Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio - Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada."

Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

O Estado de S. Paulo, 24/09/86.

sábado, 5 de novembro de 2011

Novembro doce, doce




"Que novembro venha com bons ventos, que nos traga sorte e paz, que não nos deixe desanimados, por favor. Só por um mês, faça tudo dar certo, depois veremos o que fazer em dezembro."



Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

sábado, 29 de outubro de 2011

Tempestade em copo d'água é para os fracos. Eu faço é dilúvio em tampinha de xarope!

sábado, 15 de outubro de 2011

RECOLHER-SE É PRECISO, infelizmente

"Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambigüidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos."


Lya Luft

sábado, 3 de setembro de 2011

E POR FALAR EM AMOR...





Hoje é um daqueles dias estranhos que fica entre a tristeza e a tranquilidade. Alguns poderiam chamar de solidão, mas não... A solidão é triste, desesperadora. Hoje é dia de sentir paz na conciência, sem deixar de sentir saudades e esperança. Saudades do que passou e esperança naquilo que está por vir. Mas essa espera é tranquila. Sem angústia, sem expectativas.

Tem um amigo que diz que o amor é sempre a resposta. Tem uma outra-pessoa-especial-que-eu-gosto-muito que diz que o mais mágico da vida é responder SIM sem precisar saber qual é a pergunta. E não é que, no fundo, os dois querem dizer a mesma coisa? Mas eu - que tenho um jeito torto de lidar com o amor e que, às vezes sou incompreensiva e egoísta e, ao mesmo tempo, sou completamente apaixonada por algumas certas pessoas - ainda fico com a frase de Caio Fernando Abreu: "Me desculpe, mas eu não acredito no amor. Eu até queria acreditar, mas a vida vem me obrigando a fazer o contrário"

É... eu não acredito, mas tomara que eu esteja errada.

PARA QUANDO O AMOR CHEGAR...





Uma pessoa tem certeza que encontrou o amor quando encontra alguém para o qual dizer assim:


Pois eu, eu só penso em você
Já não sei mais porque
Em ti eu consigo encontrar
Um caminho, um motivo, um lugar
Pra eu poder repousar meu amor


Trecho da música Fingi na hora rir, de Los Hermanos, uma das minhas músicas preferidas.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PEDRA ROLANTE




“Pedra que muito rola não cria musgo” – dizia minha avó quando falava de um sobrinho, Francisco. Ninguém nunca sabia direito onde ele andava: podia ser Porto Alegre, Rio, São Paulo, Paris ou Alexandria. Não é jeito de dizer, não. Ele passou mesmo vários anos no Egito. O Francisco era um exemplo perfeito do que um bom rapaz não deve nunca fazer: andar por aí assim, mudando de cidade, de trabalho, de vida, com tanta facilidade como quem muda de camisa. Pedra que se preza, para minha avó, devia ficar parada e quietinha no seu lugar, criando embaixo aquela camada grossa de musgo verdinho.

Bom, uns anos depois, já na estrada, conheci o Francisco e achei ele ótimo. Tinha visto uma porção de lugares, conhecido um monte de gente, vivido e sentido coisas que a maioria das pessoas só imagina e não tem coragem de viver. Fiquei encantado: ele era uma pessoa larga. Largueza, para mim, é qualidade muito importante nas pessoas. Foi então que entendi melhor porque sempre tinha achado musgo uma coisa muito chata.

As pessoas vivem me perguntando: “Mas, afinal, onde é mesmo que você está morando?” Nem sempre sei responder. Pode ser aqui, ali, ou um pouco aqui, outro ali. Outro dia alguém se queixou que só de endereços meus tinha umas duas páginas ocupadas (e riscadas) na cadernetinha. Até pouco tempo atrás, confesso, eu mesmo ficava angustiado com essa inquietação toda. Agora estou mais acostumado. Tem coisas da gente que não são defeito nem erro: são só jeito da gente ser. O negócio é acostumar com isso e não sofrer. Aliás, o melhor jeito, em relação a qualquer coisa, é sofrer o mínimo possível. Aquilo que os americanos chamam de relax and enjoy – mais ou menos “relaxe e curta”.

Não sei dizer mais quantas vezes mudei de casa e de cidade. Fui, por exemplo, de Santiago, no interior do Rio Grande do Sul, para Porto Alegre, de lá para São Paulo, depois Campinas, Rio de Janeiro, um tempinho em Florianópolis, na Bahia, em Paris, em Londres, Estocolmo, mais um pouquinho no Rio, e por aí vai. Só em São Paulo já morei quatro vezes, de ir embora jurando nunca mais voltar, e voltando sempre. Só em Sampa, já passei pelo Jardim América, pela Bela Vista, Vila Madalena, Jardim Paulistano, Pinheiros, Sumaré, Centro da cidade – agora estou num lugar entre o Ibirapuera e Vila Nova Conceição, que ainda não consegui descobrir o nome. Sei que tem uma feira bem na minha rua, às terças-feiras.. Estou achando um grande barato ter, pela primeira vez na vida, uma feira aqui na porta de casa. Mas não sei até quando vou achar isso.

Minto. Sei, sim. Não é de repente, é mais aos pouquinhos que acontece. Difícil explicar, mas vai dando uma coisa de você não ver mais direito nem as coisas nem as pessoas que estão à sua volta. Você vai acostumando com elas, assim como acostuma com uma cadeira, uma mesa, um fogão. Quando tudo começa a ficar igual todos os dias e você, sem perceber, começa a se movimentar como quem liga o automático e, feito robô, apenas faz coisas, sem sentir o que está fazendo – bem, para mim é porque está na hora de dar o fora. Aí a gente muda. Se não dá para mudar de cidade, muda de casa, muda de rua, de bairro (cá entre nós: massa mesmo seria poder mudar de planeta). Não há nada mais estimulante do que ver ruas e pessoas pela primeira vez. Você tem que fazer um superexercício para conseguir descobrir os jeitos particulares delas se comunicarem – sim, porque tudo isso tem um jeitinho particular. Você é novo. A maioria das pessoas que conheço vive muito desatenta de estar vivendo: elas parecem tão acostumadas com as coisas que estão em volta que é como se estivessem dormindo.

Não digo que todo mundo deva fazer a mesma coisa, e que isso é o certo. Na minha cabeça, certo é tudo aquilo que dá prazer da gente fazer, desde – claro – que não prejudique ninguém. Depois, também acho que para acordar dessa espécie de sono limoso tem muito jeitos. Pode ser ler um livro ou ver um filme provocante, de vez em quando. Num fim de semana, ir a um bar ou a um bairro onde a gente nunca foi antes. Ou bater um bom papo, daqueles verdadeiros, com uma pessoa nova. O que não pode é começar a achar tudo igual, porque aí a criatura vai engordando por dentro e criando aquele tipo de barriga que eu chamo de “barriga mental”. Umas gordurinhas no cérebro que deixam o pensamento lerdo e tiram o prazer de qualquer coisa.

Claro que viver assim, pulando de galho em galho, também tem suas desvantagens. O que se perde de correspondência, por exemplo, é um absurdo. E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver – e aí dança. Mas também acho que aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante – coisa ou pessoa – na sua vida, isso não se perde. E aí lembro de Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser tem muita força”. A gente não tem é que se assustar com as distâncias e os afastamentos que pintam. Mas, vantagens? Ah, isso também tem. A melhor delas é conhecer gente. Não tem coisa melhor (nem pior) do que gente. E, na minha opinião, não é plantado no mesmo lugar, caminhando sempre pelas mesmas ruas, repetindo ano após ano os mesmos programas, que você vai conhecer pessoas novas.

Se fico por aqui? Vou ficando. A feira na porta de casa me encanta, o dono do bar da esquina já começou a me cumprimentar. Ontem mesmo comecei um trabalho novo, e a casa recente está pegando o jeito que gosto. Mas quando vejo no mapa uma ilha chamada Java, com o porto de Surabaya, nas bandas da Ásia – que dá uma vontade de ir pra lá, ah, isso dá. Questão de paciência. Pelo menos até o dia que eu acordar de manhã e perceber aquela camadinha de verde musguento avançando. Porque, no que depender de mim, e para desgosto de minha avó, enquanto tiver saúde vou rolando até encontrar qualquer coisa (ou pessoa) tão fantástica que me dê vontade de ficar ali para sempre. Cá entre nós, se for só a morte, também não me importo nem um pouco.

Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

Extraído do blog Caio F Abreu: http://caiofcaio.blogspot.com/

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

SUGESTÕES PARA PASSAR AGOSTO (e todos os meses de sua vida)

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus,fica a suspeita de sinistros angúrios, premonições.Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos- ou precauções-úteis a todos. O mais difícil:evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão completamente quanto possível(santo ZAP!):FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu- sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros,juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques-tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire , a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas- coisas assim são eficientíssimas, pouco me
importa ser acusado de alienação.
É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.

Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

(crônica escrita em AGOSTO de 1995, O ESTADO DE SÃO PAULO)

sábado, 30 de julho de 2011

ALITERAÇÃO

Também sei fazer aliteração com o /s/:

"Saudade é só o que o meu coração consegue sentir, por isso sempre os susurros da solidão me assobram."

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Ritmo da Chuva
Los Hermanos

Olho para a chuva que não quer cessar
Nela vejo o meu amor
Esta chuva ingrata que não vai parar
Pra aliviar a minha dor

Eu sei que o meu amor pra muito longe foi
Numa chuva que caiu
Oh, gente! Por favor pra ela vá contar
Que o meu coração se partiu

Chuva traga o meu benzinho
Pois preciso de carinho
Diga a ela pra não me deixar triste assim...
O ritmo dos pingos ao cair no chão
Só me deixa relembrar
Tomara que eu não fique a esperar em vão
Por ela que me faz chorar.

Oh, chuva traga o meu benzinho!
Pois preciso de carinho
Diga a ela pra não me deixar triste assim

O ritmo dos pingos ao cair no chão
Só me deixa relembrar
Tomara que eu não fique a esperar em vão
Por ela que me faz chorar.

Oh, chuva traga o meu amor!
Chove, chuva traga o meu amor
Oh, chuva traga o meu amor!
Chove, chuva traga o meu amor...

terça-feira, 5 de julho de 2011

PAZ E AMOR


No meu dia-a-dia cheio de burocracias que a vida em sociedade me impoe, sempre sobra um tempinho para curtir um pouco a sementinha hippie que eu trago aqui dentro. Adoro roupas estampadas e coloridas, fitas e flores no cabelo, natureza, artesanato e o máximo de naturalidade possível: menos cremes, menos maquiagem e menos hipocrisia.

Não posso dizer que tenho coragem de abandonar o conforto da minha casa para sair por aí, cantando e tocando violão (até porque eu não sei fazer nenhum dos dois), mas, com certeza, é preciso sempre criticar os excessos de consumismo e a violência gratuita com a qual convivemos. Mesmo gostando de tomar banho quente e usar shampoo, PAZ e AMOR deveriam continuar sendo as palavras de ordem - independente da religião que decidimos seguir. Afinal, não é isso que todos nós queremos? Seja usando terno e gravata na ONU, ou indo para Africa ajudar as pessoas, ou lutando pelas causas ambientais, o intuito é o mesmo: conseguir um mundo mais fraterno para todos.

Outro dia, ao ser criticada por causa das minhas blusas floridas e minhas fitas no cabelo, me disseram que eu era meio hippie e que qualquer dia desses eu ia começar a acampar em um parque. Fiquei irritada com o comentário intrometido e preconceituoso da pessoa em questão, mas isso me fez pensar em tudo que refleti até aqui e mais: depois de divagar sobre os ideais de um mundo melhor comecei a pensar especificamente no ideal PAZ e AMOR.

Se considerarmos que AMOR é o amor ao próximo, tudo bem. Se temos afeto pelas pessoas o convívio fica muito mais fácil em todos os ambientes. Mas se AMOR for amor sinônimo de paixão, eu tenho um problema. Não consigo juntar paz e amor, nesse caso. A paz eu encontro nos momentos de solteirice. E quando estou vivendo um amor, não tenho paz. Dá para entender? Nem sei se isso tem alguma relação com o assunto dos hippies, mas sabe como é, né? Quem é meio hippie liga um pensamento no outro e acaba viajando na maionese.... ;)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

CLARICE E A TERCEIRA PERNA

Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.

Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A ideia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?

(A paixão segundo G.H., Clarice Lispector)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

MO-VI-MEN-TO


Mudança
Edson Marques
http://www.mude.blogspot.com/

Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente, observando com atenção
os lugares por onde
você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama…
depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais…
leia outros livros,
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.
Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado…
outra marca de sabonete,
outro creme dental…
tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.
Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

domingo, 22 de maio de 2011

SAUDADES DO MEU SERTÃO




Saudade de minha terra

(Goia e Belmonte)

De que me adianta viver na cidade
Se a felicidade não me acompanhar
Adeus paulistinha do meu coração
Lá pro meu sertão eu quero voltar
Ver a madrugada quando a passarada
Fazendo a alvorada começa a cantar
Com satisfação, eu arreio o burrão
Cortando o estradão, eu saio a galopar
E vou escutando o galo berrando
Sabiá cantando no jequitibá

Por Nossa Senhora, meu sertão querido
Vivo arrependido por ter te deixado
Essa nova vida aqui na cidade
De tanta saudade eu tenho chorado
Aqui tem alguém, diz que me quer bem
Mas não me convém, eu tenho pensado
Eu vivo com pena, pois essa morena
Não sabe o sistema que eu fui criado
Tô aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando com o rádio ligado

Que saudade imensa do campo e do mato
Do nosso regato que corta as campinas
Aos domingos eu ia passear de canoa
Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Que doce lembrança daquela festança
Onde tinha dança e muitas meninas
Eu vivo hoje em dia sem ter alegria
O mundo judia mas também me ensina
Eu tô contrariado, mas não derrotado
Eu sou bem guiado pelas mãos divinas

Pra minha mãezinha já telegrafei
E já me cansei de tanto sofrer
Essa madrugada estarei de partida
Pra terra querida que me viu nascer
Já ouço sonhando o galo cantando
O inhambu piando no escurecer
A lua prateada clareando as estradas
A relva molhada desde o anoitecer
Eu preciso ir pra ver tudo ali
Foi lá que eu nasci, lá quero morrer

sábado, 14 de maio de 2011

QUERO SER MAR CALMO...

“Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente… um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem. Confesso que às vezes me dão umas crises de choro que parecem não parar, um medo e ao mesmo tempo uma certeza de tudo que quero ser, que quero fazer. Confesso que você estava em todos esses meus planos, mas eu sinto que as coisas vão escorrendo entre meus dedos, se derramando, não me pertecendo.Estou realmente cansado.Cansado e cansado de ser mar agitado, de ser tempestade… quero ser mar calmo. Preciso de segurança, de amor, de compreensão, de atenção, de alguém que sente comigo e fale: “Calma, eu estou com você e vou te proteger! Nós vamos ser fortes juntos, juntos, juntos.” Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo. Confesso, confesso, confesso. Confesso que agora só espero você.”



Do sempre nosso,

Caio Fernando Abreu

sábado, 30 de abril de 2011

SOCORRO!

Socorro
Arnaldo Antunes
Composição : Arnaldo Antunes/Alice Ruiz

Socorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...

Socorro!
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena, qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...

Socorro!
Alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada
Socorro! Eu já não sinto nada...

Socorro!
Não estou sentindo nada [nada]
Nem medo, nem calor, nem fogo
Nem vontade de chorar
Nem de rir...

Socorro!
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Eu Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate
Nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...

sábado, 23 de abril de 2011





“Então você está confusa com seus sentimentos. Ele apareceu tão de repente na sua vida, com aquele brilho manso no olhar, com aquela meiguice na voz, sem pedir coisa alguma, meio como um Pequeno Príncipe caído de um asteróide. A princípio você nada percebeu de diferente. O susto veio quando você se lembrou das palavras da raposa, explicando ao Pequeno Príncipe o que era ficar cativo: É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos de todos os homens me fazem entrar dentro da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair…”

- Antoine de Saint-Exupéry.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

"Do nosso amor a gente é que sabe, pequeno."

Chega um dia em que não é mais possível ignorar aquilo que doi. Pensando nisso, ela usou o feriado para fazer uma colcha de retalhos. Foi juntando tudo: poesias, filmes, objetos, lembranças, cenas...tudo. Tomou um banho de lembranças e outro de lágrimas. Ficou mais leve depois disso, embora a solução não tenha vindo e, talvez, nunca venha.

sexta-feira, 15 de abril de 2011



“Poderíamos casar, teríamos um apartamento, tomaríamos café as cinco da tarde, discordaríamos quanto a cor das cortinas, não arrumaríamos a cama diariamente, a geladeira seria repleta de congelados e coca-cola, o armário de porcarias, adiaríamos o despertador umas trinta vezes, sentaríamos na sala de pijama e pantufas, sairíamos pra jantar em dia de chuva e chegaríamos encharcados, nos beijaríamos no meio de alguma frase, você pegaria no sono com a mão no meu cabelo e eu, escutando sua respiração. Eu riria sem motivo e você perguntaria porque, eu não responderia, saberíamos.”


Do sempre nosso,

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 30 de março de 2011

Vamos Mariar?




Foi ontem a grande final do BBB 11. Sim, eu fiquei assistindo! E gostei muito. Eu faço parte daquele grupo de pessoas que preferem conhecer antes de criticar, ou melhor, conhecer para criticar. O BBB possui inumeráveis aspectos contestáveis e condenáveis, mas só quem asssiste pode comentar sobre eles. Como falar de algo que não se conhece? Se você fala mal de alguma coisa quem nunca viu, você não está sendo crítico, está sendo pagagaio que repete o que ouve por aí!

Apesar de não assistir todos os dias, gosto sempre de estar informada sobre o que está acontecendo no reality. Temos que ter em mente que um programa como esse não tem o poder de mudar a sociedade ou de influenciar às pessoas. Não acredito nisso. Acho que é exatamente o oposto: ele mostra o que nossa sociedade é! Por exemplo, há quem diga que a presença do Dourado na casa estimulou atitudes de homofobia e outros infinitos tipos de preconceitos: bobagem! Ele não teria esse poder. A nossa sociedade, infelizmente, é uma sociedade homofóbica e preconceituosa. A presença de um participante no BBB que apresenta essas características apenas joga na cara dos falsos moralistas como a situação está de verdade. E, nesse momento, paramos para discutir sobre o assunto, para analisar situações e, quem sabe, quebrar velhos paradigmas?

Bom, meu texto não tem o objetivo de defender o BBB. Estou apenas dizendo que, como tudo no mundo, ele possui aspectos bons e ruins. Cabe a nós saber separar!

O que eu quero dizer é que essa nova edição nos trouxe algo ótimo. Algo ótimo para nós, mulheres! Quem assistiu teve a chance de refletir sobre nós mesmas, através da MARIA.

O Bial, que é um excelente jornalista e um ótimo escritor, às vezes escorrega nos discursos que faz aos brothers, mas, ontem na final, ele acertou em cheio. Ele disse:"Reza a lenda que as mulheres decidem o programa, mas não ganham nunca(...) Até que chega uma mulher, uma linda mulher, que atrai os homens e intriga as mulheres. Uma mulher que esfrega não, que afaga na cara das mulheres tudo que elas mais detestam ser, ter sido ou vir a ser de novo por alguma circunstância!

Pronto! E não é que é isso mesmo! Nós, mulheres seguimos regras que tacitamente foram estabalecidas pela nossa sociedade para ditar o nosso comportamento. A Maria trouxe à tona tudo aquilo que a gente tem medo: burrice, desfrute (que palavra antiga!), rejeição, humilhação. Porque, nós, filhas de Amélia, não podemos ser burras. Temos que entender de tudo, darmos palpites inteligentes e, claro, sempre com bom humor. Barraco não é coisa de Amélia. Mantemos a classe, engolimos seco.

E no amor? Nunca nos oferecemos, porque as pessoas vão pensar o quê de mim? E, cá entre nós, a mulher que disser que nunca quis pedir carinho, que nunca pensou em implorar pelo amor de um homem ou quis se insinuar e tentar consquistá-lo a qualquer preço, essa mulher está terminantemente mentindo! Sim, temos vontade de fazer isso, mas Amélias não fazem isso. Amélias nasceram para serem conquistadas e nunca rejeitadas. A humilhação é uma vergonha para uma Amélia, por isso não nos oferecemos porque temos que transparecer orgulho, segurança, e autosuficiência, mesmo que seja tudo de mentira! É isso que a nossa sociedade hipócrita, machista e moralista exige! É isso que nós, mulheres hipócritas, machistas e moralistas exigimos de nós mesmas e das nossas amigas.

A Maria agiu exatamente ao contrário: ela chorou, riu, dançou, dizia sempre "não entendi". Burrinha? Não! CORAJOSA. Inteligentíssima. Porque isso mostrava o quanto ela queria aprender. E os romances? Ela ficou com um, depois se balançou por outro, aí lutou para reconquistar o primeiro, não conseguiu, e, finalmente aceitou o amor do segundo. E isso tudo foi vivido em doses cavalares de intensidade e sinceridade. E foi acompanhado com apoio do público, que demonstrou que algo está mudando...

Há quem diz que ontem foi dia de Maria e, eu digo: na nossa atual conjuntura social, chega de viver como filhas de Amélia, é preciso demonstrar o que se é, o que se sente, o que se quer! É TEMPO DE MARIAS!

segunda-feira, 28 de março de 2011

“Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você.”



"Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo."





Do sempre nosso,

Caio Fernando Abreu.




Lá vou eu...

LI-BER-DA-DE




Uma vontade danada de me sentir livre, de dominar completamente as escolhas da minha vida. De es-COLHER o que eu achar melhor. Seguir minha vontade. Estou trabalhando para isso. Estou ardilosamente lixando o cadeado da minha gaiola. Lentamente, para que minha ânsia de liberdade não se transforme em impulso de pessoa inconsequente.

terça-feira, 8 de março de 2011

COM LICENÇA POÉTICA


Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou


FELIZ DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

CAÇA-PALAVRAS

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TALVEZ, SIM. MAS SÓ TALVEZ.




“Ficar bem nem sempre deixa outras opções. É estranho quando as coisas simplesmente têm de terminar. É o estágio onde todos os sentimentos já evoluíram para um nada. É o nada que você optou para parar de sentir dor. No início você briga, chora, faz drama mexicano. Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se… Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser. Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. É isso.”


Do sempre nosso,Caio Fernando Abreu.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011




Nada mais triste no mundo do que desperdiçar amor...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

tum-tum-tum

“Desde que ele se fora, embora eu ouço versos que me falam sobre amores arruinados, o coração já não bate, esquecera completamente o tal do Tum-tum-tum. Será que o coração bate assim? Há algum tempo que não sei como ele reage, porque os dias estão vazios. Sabe toda aquela ideologia de que é possível viver sozinho? Pois é. Acreditava nisso piamente porque ele estava ao meu lado, agora que se foi tudo é cinza. E eu chorei um oceano inteiro essa noite. Eu precisava esvaziar.”


Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

sábado, 5 de fevereiro de 2011




“Só nós dois, sós os dois, sóis os dois.”



Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

domingo, 30 de janeiro de 2011

“Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença. Penso em você porque sinto um vazio, que eu não sei do quê e nem por quê. Revelo, então, mais uma vez, minha estupidez, já que não é você quem vai me salvar e nem muito menos me catapultar pra uma dimensão mais tranquila e menos ansiosa de coisas que não têm nome.”





Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

CONSULTA

- ... é isso doutor! É isso o que eu sinto. São esses os sintomas. O que você acha?

-É... os sintomas não deixam dúvidas. É claro o seu problema!

- O que eu tenho doutor?

-Incapacidade de amar. E outros problemas advindos dessa doença: desconfiança, falta de paciência e outros.

-E isso é grave? Tem cura?

-Sinto muito, mas não tem cura. Mas fique tranquila: isso pode ser tratado e você pode viver normalamente tomando iniciativas simples.

-Ai... O que devo fazer?

-Aproveite muito os momentos com sua família, pois eles tem o poder de despertar em você o mais verdadeiro dos sentimentos. Você precisa ter bons amigos, conviver com pessoas sinceras e alegres que gostem de você de verdade, que te ajudem, que te faça rir e, assim, você conseguirá fazer bem a elas tanto quanto elas fazem a você. Afaste-se das pessoas falsas, pessimistas e egoístas, do contrário seu caso pode se agravar fatalmente. Não viva em ambientes que te tornam estressada ou nervosa.

- E isso será suficiente? E se eu não conseguir? E se as pessoas não entenderem?

- Fique tranquila. As pessoas olharão para você, mas não perceberam a sua anomalia. Se você seguir rigorosamente o tratamento, tenho certeza que você será uma menina alegre. E é bem possível que, em alguns momentos, você até consiga ser feliz...

domingo, 23 de janeiro de 2011

JÁ NÃO É MAIS O QUE ERA ANTES

Já não era tão cedo nem era mais sábado, mas se se apressasse podia ainda quem sabe viver intensamente a madrugada de domingo.”

Do sempre nosso, Caio Fernando Abreu.

domingo, 16 de janeiro de 2011

UMA HORA E MAIS OUTRA

Carlos Drummond de Andrade

Há uma hora triste
que tu não conheces.
Não é a da tarde
quando se diria
baixar meio grama
na dura balança;
não é a da noite
em que já sem luz
a cabeça cobres
com frio lençol
antecipando outro
mais gelado pano;
e também não é a
do nascer do sol
enquanto enfastiado
assistes ao dia
perseverar no câncer,
no pó, no costume,
no mal dividido
trabalho de muitos;
não a da comida
hora mais grotesca
em que dente de ouro
mastiga pedaços
de besta caçada;
nem a da conversa
com indiferentes
ou com burros de óculos,
gelatina humana,
vontades corruptas,
palavras sem fogo,
lixo tão burguês,
lesmas de blackout
fugindo à verdade
como de um incêndio;
não a do cinema
hora vagabunda
onde se compensa,
rosa em tecnicólor,
a falta de amor,
a falta de amor,
A FALTA DE AMOR;
nem essa hora flácida
após o desgaste
do corpo entrançado
em outro, tristeza
de ser exaurido
e peito deserto;
nem a pobre hora da evacuação:
um pouco de ti
desce pelos canos,
oh! Adulterado,
assim decomposto,
tanto te repugna,
recusas olhá-lo:
é o pior de ti?
Torna-se a matéria
nobre ou vil conforme
se retém ou passa?
Pois hora mais triste
ainda se afigura;
ei-la, a hora pequena
que desprevinido
te colhe sozinho
ou na rua ou no catre
em qualquer república;
já não te revoltas
e nem te lamentas,
tampouco procuras
solução benigna
de cristo ou arsênico,
sem nenhum apoio
no chão ou no espaço,
roídos os livros,
cortadas as pontes,
furados os olhos,
a língua enrolada,
os dedos sem tato,
a mente sem ordem,
sem qualquer motivo
de qualquer ação,
tu vives: apenas,
sem saber por quê,
como, para quê,
tu vives: cadáver,
malogro, tu vives,
rotina, tu vives
tu vives, mas triste
duma tal tristeza
tão sem água ou carme,
tão ausente, vago,
que pegar quisera
na mão e dizer-te:
Amigo, não sabes
que existe amanhã?
Então um sorriso
nascera no fundo
de tua miséria
e te destinara
a melhor sentido.
Exato, amanhã
será outro dia.
Para ele viajas.
Vamos para ele.
Venceste o desgosto,
calcaste o indivíduo,
já teu passo avança
em terra diversa.
Teu passo, outros passos
ao lado do teu.
O pisar de botas,
outros nem calçados,
mas todos pisando,
pés no barro, pés
n'água, na folhagem.
Pés que marcham muitos,
alguns se desviam,
mas tudo é caminho.
Tantos: grossos, brancos,
negros, rubros pés,
tortos ou lanhados,
fracos, retumbantes,
gravam no chão mole
marcas para sempre:
pois a hora mais bela
surge da mais triste.