quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

PARA QUEM BEBE AMOR


Era daquele tipo de amor café, que vicia aos poucos.
No começo você acha que só vai tomar um pouquinho, mas depois, não consegue viver sem.
Ela era doida por ele - doida mesmo, de amarrar os pulsos pra não atacar alguém do sexo feminino que se aproximasse.
Ele era doido por ela - doido de fazer seus gostos, de manter sua calma quando a abraçava..
E eles eram um par.
Foi quando ela cismou em querer ganhar o mundo. Pegar uma mochila, e sair por aí, sem rumo.
Ele bateu o pé, mas não adiantou. Ela precisava viver isso pra saber quem era, de fato.
Foram meses, anos. Conheceu lugares, pessoas, culturas. Viveu situações que nunca imaginara viver.
Aprendeu a se equilibrar sozinha, a meditar, a entender coisas que antes não entendia.
Ele se dedicou a si mesmo, estudou, se estruturou.
Quando ela voltou, nada era como antes. Pensou se deveria ou não agir, temeu que ele a tivesse esquecido, que houvesse outra em seu lugar.
Mas ninguém é substituível. Ninguém é igual, e um grande amor sempre será um grande amor.
Quando se viram, as peles se tocaram sem querer.
Entrega e iniciativa.
A música começou a tocar e a noite se fez com mais brilho.
A partir de então, tudo teve mais suavidade e beleza.
O amor que era café, passou a ser chá de camomila, tranquilo e cheio de cura.

Érika Marin

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Continuo...



Continuo a mesma. Continuo no mesmo endereço, desde que nasci quase. Continuo com as mesmas árvores de folhas sempre verdes na calçada e as páginas do velho diário na gaveta. Continuo na mesma casa, que mais parece um bosque e um quarto que mais parece um labirinto de mim. Continuo com a mesma janela que dorme aberta. Continuo com o mesmo nome, o mesmo sobrenome, RG, CPF e Título de Eleitor. Continuo com o mesmo celular, o mesmo número de sapato. Continuo com o mesmo jeito direto que assusta algumas pessoas. Continuo a mesma boba que sorri por nada. Que faz bico quando chora. Continuo com o mesmo jeito nada tímido e meio tímido de falar com as pessoas. Continuo com a mesma cautela. Com o mistério que nem sempre é segredo. Continuo com um exagero abusado e um drama para achar graça. Continuo falando bobagens. Continuo acreditando nos amores. Continuo quebrando a cara. Continuo brincando de ser feliz. Continuo eternizando letras. Continuo a ser loucamente apaixonada pela lua cheia. Continuo com minhas insônias ou sono demais. Continuo a ter que me cobrir da cintura até os joelhos, mesmo que o calor seja imenso, ou então não durmo. Continuo com minhas defesas, medos, desesperos. Continuo vivendo muito para dentro. Continuo sem paciência pra fazer social. Vez ou outra dou uma de desentendida. Continuo crítica, principalmente comigo mesma. Continuo azeda, mas muito doce quando doce. Continuo do contra. Continuo tomando remédio pra dor nas costas e viro a pessoa mais sonolenta do mundo sob o efeito dessa droga. Continuo séria. Continuo sorriso. Continuo com o cotovelo direito me perturbando. Continuo a fazer telefonemas de carinho ali na varanda, olhando para o céu e poemas de amor, olhando pra ele. Continuo viciada em doces e a achar "Lisbela" o melhor filme. Continuo a reclamar do calor. E se faz frio, reclamo do frio. Continuo a preferir o inverno. Continuo fã de sorvete com farinha láctea e leite condensado. Continuo a me apaixonar todos os dias. Continuo a sofrer para pisar no chão e deixar a fantasia de lado. Continuo descaradamente sincera e franca. Continuo com umas coragens insanas. Continuo a irmã mais velha, não importa quanto os meus irmãos já estejam adultos. Continuo a perder a conta de quantos sonhos tenho. Continuo sendo várias, depende de quem me chama. Continuo brigando pelo meu lugar ao sol. Com quem quer que seja, não importa o preço. Continuo louca por abraços. Continuo a ouvir as músicas de Nando Reis, Caetano e Gadú incansavelmente. Continuo a sorrir dizendo que não tem nada a ver quando algo não me agrada. Continuo a fingir que não tenho medo de avião. Continuo a pensar poesia dentro do carro. Continuo preferindo andar na janela. Continuo a me preocupar com as revoltas naturais do mundo. Continuo com o mesmo perfume. Continuo sedentária, apesar das promessas. Continuo a trocar cinema por filme no sofá debaixo das cobertas, com pipoca e amor. Continuo lendo muito, mas não tanto quanto gostaria. Continuo a cobrir meu corpo inteiro quando durmo, ou pelo menos os pés. Continuo odiando filmes de terror e adorando comédias românticas bem melosas. Continuo obviamente inocente para as maldades do mundo. E chata. E teimosa. E arrogante. Continuo vivendo no mundo da lua, mas obrigada a pisar os terrenos da realidade cruel. Continuo calada quando muita gente fala ao mesmo tempo. Continuo essencialmente MPB e Bossa Nova. Continuo sempre com um trident de menta na bolsa. Continuo a escrever cartas que não mando. E-mails quilométricos pra mim mesma no futuro. Continuo a achar estranho unhas dos pés pintadas de vermelho, mas continuo pintando. Continuo a tomar banho fervendo, mesmo no verão. Continuo a escovar os dentes e andar pela casa toda enquanto isso. Continuo com a letra desenhada e meio ilegível, apesar de achá-la linda. Continuo a procurar erros de português em todos os cantos. Continuo a me sentir nua sem brincos. Continuo sarcástica. Continuo ótima ouvinte. Continuo sensível demais. Continuo insensível demais. Continuo achando domingo o melhor dia da semana. Continuo acumulando leituras indicadas. Continuo a achar que chuva forte é aplauso. Continuo com inveja das pessoas que gostam e aguentam horas a fio em festas e boates, eu continuo caseira e continuo amando leite gelado. Continuo a ganhar o dia quando me dizem que andei emagrecendo. Continuo com meus cachos indefinidos. Continuo a não usar batom. Continuo a achar nos livros uma saída. Continuo preferindo a calça jeans, mas visto mais roupa social agora, por exigência da sociedade e da profissão. Continuo clichê. E me rendendo a algumas convenções sociais. Continuo a achar melancia a fruta mais gostosa desse mundo. Continuo apaixonada por flores. Continuo achando que preciso usar mais meus óculos. Continuo com preconceito musical, mesmo sendo bastante eclética. Continuo com preguiça de gente. Continuo com saudades imensas de um lugar que ainda não conheço. Continuo a sorrir quando vejo fotos antigas que trazem de volta momentos bons que não voltam. Continuo a sentar na grama. Continuo a me tranquilizar quando a chuva cai lá fora. Continuo na minha sozinhez, mesmo acompanhada. Continuo a brigar com minha escolha profissional e a amar o que faço e onde trabalho, mas ainda hei de ser rica e bem-sucedida longe dali. Continuo a amar loucamente minha filha e meu filho que ainda vão nascer um dia. Continuo a querer ser pedida em casamento todos os dias. Continuo a achar que catchup, chocolate e sushi são invenções muito dignas. Continuo espiritualizada. Continuo a ver a presença da força divina em tudo que vivencio, de uma forma ou de outra. Continuo a não ser mulherzinha e a adorar coisas de mulherzinha. Continuo tendo amigas distantes. Continuo contraditória. Continuo guardando tudo pra mim. Continuo a ter crises de enxaqueca durante implosões. Continuo a tirar o esmalte com os dentes deixando o chão cheio de pontinhos vermelhos, quando ansiosa. Ando mais solta. Continuo me sentindo presa. Continuo amante de praias. Continuo me sentindo muito bem em frente ao mar, continuo gostando de olhar pro mar como gosto de pouca coisa nessa vida. Continuo fazendo planos de viajar muito. Continuo achando que sair sem destino certo e sem hora pra voltar o melhor programa do mundo. Continuo descabelada quando acordo. Continuo difícil de entender. E fácil de dobrar. Ou o contrário. Continuo dormindo com o MP3 ligado e agarrada ao travesseiro. Ou a tv ligada, pra espantar o medo do escuro. Continuo a contar meus amigos nos dedos da mão. Continuo com doses de melancolia. Continuo a voar para dentro das pessoas quando vejo pedacinhos meus por lá. Continuo sendo apaixonada por simplicidade e tendo uma fé inabalável. Continuo a chorar de repente, e assim ver o choro me aliviar. E depois planto sorrisos. Continuo a me gastar de maneiras lindas. E a contabilizar meus pedaços assim, todo dia e a cada fim de mês. No mundo que eu escolhi para meu. Que me recebeu, com suas dádivas e dores. E toda essa promessa de vida. E vários corações.
Emília Lima, Adaptado.

Fonte: http://caixinhadelicada.blogspot.com/

quarta-feira, 12 de junho de 2013

HOJE É DIA DE....

Eduardo e Mônica

Legião Urbana

Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?


Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram

Eduardo e Mônica, um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir

Festa estranha, com gente esquisita
Eu não to legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
É quase duas, e eu vou me ferrar

Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard

Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo

Eduardo e Mônica era nada parecido
Ela era de Leão e ele tinha 16
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô

Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão

E mesmo com tudo diferente
Veio o medo, de repente uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro e artesanato e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (Nããããoooo!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular

E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz

Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação
Ah! Ahan!

E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?

domingo, 2 de junho de 2013

Mi querido Quijote!

INSISTÊNCIA é...

... quando meu aluno do 6º ano me pergunta curioso: "- Professora, a Senhora sabe fazer o quadradinho de oito?" Eu, no auge do meu respeito em relação aos assuntos do funk, mas realmente acreditando que meus alunos devem ter acesso a outras culturas, tive em minha mente um milhão de respostas intelectuais ao meu aluno. Mas, como isso viraria um sermão, resolvi apenas responder um simples e seco "NÃO" a fim de acabar o assunto. Alguns segundos depois, meu aluno insatisfeito, porém esperançoso e querendo dar uma chance a essa professora desatualizada, me pergunta: "E o quadradinho de quatro, a senhora sabe?"


#Aff

#SemResposta

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dar é não fazer amor


Luiz Fernando Veríssimo

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca…
Te chama de nomes que eu não escreveria…
Não te vira com delicadeza…
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar….
Sem querer apresentar pra mãe…
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral…
Te amolece o gingado…
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
‘Que que cê acha amor?’.
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho…
É não ter alguém para ouvir seus dengos…
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar…

Experimente ser amado…

sábado, 26 de janeiro de 2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

VEINTE POEMAS DE AMOR Y UNA CANCIÓN DESESPERADA
Pablo Neruda

.

Poema 5
Para que tú me oigas
mis palabras
se adelgazan a veces
como las huellas de las gaviotas en las playas
Collar, cascabel ebrio
para tus manos suaves como las uvas.
Y las miro lejanas mis palabras.
Más que mías son tuyas.
Van trepando en mi viejo dolor como las yedras.
Ellas trepan así por las paredes húmedas.
Eres tú la culpable de este juego sangriento.
Ellas están huyendo de mi guarida oscura.
Todo lo llenas tú, todo lo llenas.
Antes que tú poblaron la soledad que ocupas,
y están acostumbradas más que tú a mi tristeza.
Ahora quiero que digan lo que quiero decirte
para que tú las oigas como quiero que me oigas.
El viento de la angustia aún las suele arrastrar.
Huracanes de sueños aún a veces las tumban
Escuchas otras voces en mi voz dolorida.
Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas.
Ámame, compañera. No me abandones. Sígueme.
Sígueme, compañera, en esa ola de angustia.
Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras.
Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas.
Voy haciendo de todas un collar infinito
para tus blancas manos, suaves como las uvas.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

MAIS LIVROS EM 2013





FONTE: http://www.facebook.com/pages/Eu-amo-Ler/389742681051228

#Superrecomendado






A normalista, de Adolfo Caminha, foi o mais recente livro que li e adorei. Apesar de ter sido escrito em 1893, ele trata de temas superatuais como preconceito contra a mulher, hipocrisia, jogos de interesses, pedofilia...
A leitura leva a uma reflexão: será que a mentalidade dos seres humanos se modernizou junto com a tecnologia? Ou os preconceitos de hoje são os mesmos de 100 anos atrás?

LIVROS E +LIVROS






MInhas mais novas aquisições: 12 livros, todos clássicos da literatura. Encontrei-os em uma prateleira escondida e empoeirada em uma dessas lojas-que-vendem-todas-as-coisas-do-mundo. E o melhor é que eles foram comprados a preço de banana. ;)

#LoucaPorLivros

AMOR EM PLENITUDE

"As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui para satisfazer as delas. Temos que nos bastar, nos bastar sempre, e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém. As pessoas não se precisam, elas se completam, não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.”

Mário Quintana

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

BEM-VINDO, 2013!



Esperança

Mário Quintana


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...