sábado, 31 de janeiro de 2009

INVENTE-SE

Quem sou e quem quero ser?
Simples perguntas e quase nunca feitas.
Quem sou?
Sou o que faço a cada novo segundo ou vivo daquilo que fui? Sou o que escolho ou o que os outros escolhem para mim? Sou um sonhador ou sou um realizador? Sou parte de um todo ou um todo de alguma parte? Sou o que as pessoas pensam ou sou quem não se importa muito com o que as pessoas pensam? Sou o que querem que eu seja ou o que quero ser? Sou a imitação de alguém ou me baseio em algo ou alguém para criar quem sou? Sou o que meu signo sugere? Sou o que a numerologia diz? Sou a fofoca de alguém? Sou algo ou sou alguém? Sou mutante ou relutante? Sou o que tenho ou o que sou? Sou ou estou? Sou macho para ser homem ou homem por ser apenas humano? Sou uma mulher ou mulher de alguém? Sou vítima e coitadinho ou supero os desafios? Sou um caçador de justificativas ou aprendo com as falhas? Sou um “espalha boatos” ou ouvinte dos fatos?
Talvez sejamos tudo isso, ao mesmo tempo. Mas em algum momento, quando esta vida se for, você não será mais nada do que pensa ser. Você não será torcedor nem jogador de nada, assim como não será vencedor nem perdedor. Aliás, terá brigado muito por falsas vitórias. Seu corpo será pó e o vento que o levar trará apenas uma pergunta: Fui o melhor que pude ser?
Quem quero ser?
Quero ser mais educado ou continuar rude? Quero ser famoso para ser honrado? Quero ser reconhecido para não me sentir tão pequeno? Quero ser bravo para ser forte? Quero me tornar rei, mesmo que de um lamaçal? Quero ser alguém porque me sinto ninguém? Quero ser algo ou ser alguém? O que é ser alguém? Quero ser seguro ou continuar ciumento?Quero ser melhor que os outros ou melhor do que sou? Quero ser sincero ou continuar mentindo só para agradar? Quero ser rico para ser feliz ou rico e feliz? Posso me inventar? Posso criar em mim o que penso que seja o melhor que posso ser?
Podemos ser o que quisermos. Mesmo negando, esta é uma verdade incidente e geral.
Nossa criação, nossa sociedade e as pessoas podem nos ter inventado até agora. Mas é hora de nós mesmos sermos nossos próprios inventores. Mude as peças. Entorte os parafusos ou perca alguns, mas invente-se. Seja-se. Crie-se. Lave-se. Mude-se. Mova-se. Erga-se. Renove-se. Perca-se em si mas encontre-se. Não seja fruto, produza.
Sua religião, sua crença, sua fé, suas vontades, seus olhares, suas palavras, sua língua, seu time, sua vocação e suas escolhas possuem algum sentido ou são meras aceitações? Aceitou ser algo ou escolheu ser quem é?
Hora de inventar-se, reinventar-se e perguntar-se: Quem sou e quem quero ser?
Pode ser que sua vida esteja sem sentido e você só perceba isso quando sentir que não a possui mais.
Repare que antes de você ter a certeza de ser o dono das melhores escolhas e crenças que pôde ter até agora, alguém as pode ter lhe mostrado ou dito. São mesmo suas? São mesmo as melhores? Sua religião é a melhor e a mais verdadeira do mundo inteiro? Seu time é o melhor? Você é o exemplo máximo a ser seguido? Quem disse? Quem prova? Suas palavras são as mais verdadeiras do mundo? Você ensina seu filho a pensar ou a pensar como você?
Busque um sentido para cada escolha que fizer. Tenha um “pra quê” para cada verdade que escolher acreditar. Pergunte-se: “Para que serve acreditar nisto?” ou "Acreditar nisto me faz mais feliz ou torna minha vida mais positiva?".
Sua verdade não precisa ser a verdade dos outros e ninguém é obrigado a aceitá-la. Mas não precisa aceitar a verdade dos outros como se fosse sua sem antes questionar-se, porque isto é uma forma de negar o maior e menos usado dos dons da vida: O dom de inventar-se!

Victor Chaves

domingo, 25 de janeiro de 2009

MÁS DE CIEN MENTIRAS

Joaquín Sabina

Tenemos memoria, tenemos amigos,
tenemos los trenes, la risa, los bares,
tenemos la duda y la fe, sumo y sigo,
tenemos moteles, garitos, alteres.

Tenemos urgencias, amores que matan,
tenemos silencio, tabaco, razones,
tenemos Venecia, tenemos Manhattan,
tenemos cenizas de revoluciones.

Tenemos zapatos, orgullo, presente,
tenemos costumbres, pudores, jadeos,
tenemos la boca, tenemos los dientes,
saliva, cinismo, locura, deseo.

Tenemos el sexo y el rock y la droga,
los pies en el barrio, y el grito en el cielo,
tenemos Quintero, León y Quiroga,
y un bisnes pendiente con Pedro Botero.

Más de cien palabras, más de cien motivos
para no cortarse de un tajo las venas,
más de cien pupilas donde vernos vivos,
más de cien mentiras que valen la pena.

Tenemos un as escondido en la manga,
tenemos nostalgia, piedad, insolencia,
monjas de Fellini, curas de Berlanga,
veneno, resaca, perfume, violencia.

Tenemos un techo con libros y besos,
tenemos el morbo, los celos, la sangre,
tenemos la niebla metida en los huesos,
tenemos el lujo de no tener hambre.

Tenemos talones de Aquiles sin fondos,
ropa de domingo, ninguna bandera,
nubes de verano, guerras de Macondo,
setas en noviembre, fiebre de primavera.

Glorietas, revistas, zaguanes, pistolas,
que importa, lo siento, hastasiempre, te quiero,
hinchas del atleti, gángsters de Coppola,
verónica y cuarto de Curro Romero.

Más de cien palabras, más de cien motivos
para no cortarse de un tajo las venas,
más de cien pupilas donde vernos vivos,
más de cien mentiras que valen la pena.

Tenemos el mal de la melancolía,
la sed y la rabia, el ruido y las nueces,
tenemos el agua y, dos veces al día,
el santo milagro del pan y los peces.

Tenemos lolitas, tenemos donjuanes;
Lennon y McCartney, Gardel y LePera;
tenemos horóscopos, Biblias, Coranes,
ramblas en la luna, vírgenes de cera.

Tenemos naufragios soñados en playas
de islotes son nombre ni ley ni rutina,
tenemos heridas, tenemos medallas,
laureles de gloria, coronas de espinas.

Más de cien palabras, más de cien motivos
para no cortarse de un tajo las venas,
más de cien pupilas donde vernos vivos,
más de cien mentiras que valen la pena.

Tenemos caprichos, muñecas hinchables,
ángeles caídos, barquitos de vela,
pobre exquisitos, ricos miserables,
ratoncitos Pérez, dolores de muelas.

Tenemos proyectos que se marchitaron,
crímenes perfectos que no cometimos,
retratos de novias que nos olvidaron,
y un alma en oferta que nunca vendimos.

Tenemos poetas, colgados, canallas,
Quijotes y Sanchos, Babel y Sodoma,
abuelos que siempre ganaban batallas,
caminos que nunca llevaban a Roma.

Más de cien palabras, más de cien motivos
para no cortarse de un tajo las venas,
más de cien pupilas donde vernos vivos,
más de cien mentiras que valen la pena.