domingo, 21 de dezembro de 2008

RECEITA DE FELICIDADE


Uma das coisas que me dão mais alegria na vida é estar com minha família. Comemos, bebemos, gritamos, conversamos, brigamos, cantamos, dançamos. Enfim, sempre é uma alegria. Minha mãe que, durante um tempo, estudou violão, aprendeu a tocar uma música que passou a ser tradição de nossa família. É difícil a ocasião em que nos encontramos e não cantamos juntos essa música. Por isso ela me emociona tanto e marcará para sempe minha memória, pois será sempre uma recordação feliz de minha mãe e minha família. É uma canção tras uma mensagem muito bonita que divido agora com vocês. É uma receita de felicidade para 2009. FELIZ NATAL A TODOS!


Amar Como Jesus Amou
Padre Zezinho

Composição: Indisponível

Um dia uma criança me parou
Olhou-me nos meus olhos a sorrir
Caneta e papel na sua mão
Tarefa escolar para cumprir
E perguntou no meio de um sorriso
O que é preciso para ser feliz?

Amar como Jesus amou
Sonhar como Jesus sonhou
Pensar como Jesus pensou
Viver como Jesus viveu
Sentir o que Jesus sentia
Sorrir como Jesus sorria
E ao chegar ao fim do dia
Eu sei que dormiria muito mais feliz

Ouvindo o que eu falei ela me olhou
E disse que era lindo o que eu falei
Pediu que eu repetisse, por favor
Mas não dissesse tudo de uma vez
E perguntou de novo num sorriso
O que é preciso para ser feliz?

Depois que eu terminei de repetir
Seus olhos não saíram do papel
Toquei no seu rostinho e a sorrir
Pedi que ao transmitir fosse fiel
E ela deu-me um beijo demorado
E ao meu lado foi dizendo assim

Amar como Jesus amou.

sábado, 13 de dezembro de 2008

CORAÇÃO

Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:
Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.

Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.

Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.

Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.

Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.

Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.

Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.

Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.

Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.

Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.

Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.

Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!

Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.

Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso. Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração teu.

Caio Fernando Abreu
(Pequenas Epifanias, crônicas)

"EU FICO SUPERFELIZ QUANDO ENCONTRO UMA PESSOA TÃO CONFUSA QUANTO EU"





Alguns dias atrás li em um blog a seguinte frase: "Nem Freud, nem Nietzsche: só Caio Fernando Abreu me entende." Fiquei com aquela frase muito tempo na cabeça e quero, agora, parabenizar a pessoa criativíssima que definiu muito bem o que há tempos eu sentia e não conseguia formular em palavras.

Quando penso que já li o melhor de Caio Fernando Abreu, me deparo com outro texto dele que passa a ser o melhor texto que já li na minha vida. Caio é indescritível. Ele sabe transformar em palavras tudo aquilo que carregamos dentro da gente e que fica nos apertando...Ler Caio é uma chance de nos liberarmos dessas dores! Não quero com isso dividir a obra de Caio em cápsulas e vender como comprimidos que curam depressão. Não, não é isso. A obra de Caio Fernando Abreu, como toda boa literatura, ou como a arte em si, possibilita a nós, leitores, sensações únicas. Nossos sentimentos ficam mais claros, a mente mais aberta... E aí sim, os problemas interiores mal resolvidos ficam mais fáceis de serem enfrentados. Então...

Nem psicólogos, nem comprimidos: tratemo-nos com Caio Fernando Abreu.

sábado, 6 de dezembro de 2008

CHEIRO DE SAUDADE



Esta semana, conversei com alguns colegas que, como eu, vieram de outras cidades para estudar. Saber que existem outras pessoas na mesma situação que a gente e poder divir a saudade que sentimos é muito bom. Durante nossa conversa, eu disse que sentia falta até do cheiro de Caeté. Eles riram de mim, mas é verdade. Quando estamos indo para Caeté, chegando no pé da Serra já sentimos uma diferença no ar (deve ter alguma coisa a ver com a poluição daqui). É um ar frio que cheira. Cherinho de saudade...